Procurei em diversos lugares explicações para esse questionamento, até para que eu pudesse entender a opinião de outros praticantes da religião, e daqueles que utilizam veículos de comunicação para denigrir a imagem desse trabalho.
Confesso que não fiquei muito satisfeito com as respostas, principalmente por levarem em consideração termos muito técnicos, que acabam por banalizar uma das principais características da Umbanda, que é o conhecimento pela simplicidade.
Vamos então, para a minha experiência e o que tenho aprendido no decorrer desses quase 2 anos de trabalho mediúnico.
Por muitas vezes eu perguntei aos guias e também à Madrinha e Padrinho o motivo da utilização de fumos e bebidas, e a resposta mais criativa e libertadora que recebi, foi simples:
- A Umbanda é uma grande mesa de boteco!
Confesso a vocês que dei uma grande risada nesse momento, mas acabei por entender o que queria ser dito. Quando nos encontramos com amigos em uma mesa de bar, sempre nos deparamos com aqueles “conhecidos”, pessoas pelas quais não sentimos tanta liberdade, ou não conhecemos intimamente. Entre um copo e outro, um cigarro e outro, a mesa de boteco se torna uma grande terapia em grupo, onde não há mais profissionais, especialistas, doutores, trabalhadores braçais, professores, agricultores e tantas outras profissões e status que poderiam em outro contexto, limitar o assunto, engrandecer ou até mesmo diminuir alguém ali presente. Quando menos percebemos estamos trocando experiências, contando nossas vidas, compartilhando sentimentos, e em casos não tão raros, chorando.
Na Umbanda não é diferente, quando os guias incorporam o médium, eles se travestem de personalidades (baianos, boiadeiros, preto-velhos e etc.), para que nos sintamos confortáveis na presença deles, não se apresentam como grandes nomes da literatura, doutores em arte alguma, mas como entidades que nos entendem e podem compartilhar conosco a experiência de uma história de vida de lutas, dificuldades e vitórias.
Utilizam do cigarro e da bebida como forma abaixar o padrão vibratório e nos encontrar cara a cara. As propriedades desses instrumentos são muito vinculadas à necessidade da matéria, do físico e acabam por diversas vezes sendo mal interpretadas.
Fumam, na maioria das vezes sem tragar, e utilizam a fumaça como agente de limpeza, assim como a defumação com ervas, retirando miasmas impregnados em nosso corpo e espírito. Bebem não apenas para causar estimulação cerebral, obtida através do consumo de álcool, mas para descarrego energético e proteção. O maior compromisso da entidade é com o médium que a recebe, dessa forma todo o esforço realizado, toda a manipulação energética, todo peso dos trabalhos executados pelo guia, são eliminados e concentrados no fumo, na bebida e na comida, por se tratar de alta concentração de energia telúrica (material), o que faz com que o médium seja protegido e não sinta tanto os efeitos dessas energias.
Me perguntaram também se o consumo frequente de cigarro e bebida pode afetar a saúde do médium?
A resposta é SIM, obviamente o nosso corpo pode sofrer em virtude da utilização desses materiais, mas o mais importante de tudo é a ponderação. Tudo que é feito em excesso e sem controle pode afetar o nosso corpo físico, e não seria a Umbanda uma exceção, visto que esse também é um dos ensinamentos propostos.
No caso do fumo, é importante ter a consciência mútua – guia/médium – de que não se deve tragar o cigarro, principalmente porque o maior benefício é extraído da fumaça, e essa não necessita ir para os pulmões, e sim ser barrada na boca.
A bebida deve ser utilizada de forma moderada, por isso a preocupação da Madrinha com a quantidade que os guias bebem, há trabalhos onde a utilização será mais intensa, há outros que não. Dessa forma, a utilização consciente de ambas as partes, evita que o corpo físico sofra tantas consequências.
Importante: Beber e fumar, não são confirmações de incorporação, ou seja, não é necessário que o médium beba uma garrafa de pinga todo o trabalho para comprovar que está incorporado, da mesma forma não beber também não desabona o fato. Assim como a humanidade evolui, os trabalhos mediúnicos acompanham esse comportamento. Acredito eu que, em um determinado futuro, esses artifícios não sejam mais necessários, mas no presente em que vivemos, essa é a forma mais efetiva de unir o plano espiritual ao planeta de provas e espiações onde somos o principal contexto.
Sejamos nós sábios trabalhadores dessa obra, entendamos que os detalhes periféricos da vida, podem nos revelar grandes ensinamentos, mas podem também paralisar nossa evolução se conquistarem importância tal, que nos impeça de pensar e raciocinar.
Pablo Sousa
Uberlândia, 07 de agosto de 2017.
Excelente. Tema diversas vezes discutido em nossa casa e que merece sempre atenção, principalmente, a título de formação dos novos médiuns (e reciclagem dos calejados) hehe.